Amini Haddad
Neste mês, estive “transitando”, em completa aspiração, por entre os grupos sociais. Nesses devaneios, percebi homens e mulheres lado a lado. A ilusão me fez vivenciar uma diferenciada harmonia nas pessoas e em suas decisões, como um complementar de experiências, estas, sim, em uma unidade jamais vista.
Enfim, pude constatar o equilíbrio, advindo da magnífica criação: o Feminino e o Masculino. Senti, imensamente, a totalidade do Ser Humano, na completude da conjugação das expressões da vida. Não me senti isolada, tal como antes. Por vezes, com a voz quase esquecida. Afinal, havia igualdade de mulheres e homens debatendo grandes temas, proferindo julgamentos de interesse da sociedade. Também vivenciei projetos diferenciados de Leis e Resoluções com ênfase no interesse público. De igual forma, as mulheres acresciam horizontes às empresas multinacionais. Elas não mais se encontravam intimidadas pela maciça presença masculina, em espaços que, permanentemente, eram excluídas. Preenchiam as suas cotas, como parte do todo.
O resultado dessa conjugação fez-nos todos melhores. Afinal, as moldagens da personalidade e vivências são diferenciadas no olhar de cada homem e de cada mulher. As diferenças, contudo, não justificam qualquer inferioridade. As mesmas, ao contrário, pertencem à completude do TODO. Exatamente por isso, existe esse binômio. Afinal, não nascemos de um só.
Se essa é a experiência da vida, não podemos nos afastar dela.
Durante séculos, foi-nos extirpada a oportunidade do livre pensar e agir, da participação equânime, da efetiva construção social, igualitária e de Justiça.
Utilizaram argumentos sórdidos para nos fazer acreditar que não poderíamos tomar decisões e conduzir as nossas vidas. Fizeram de tal forma, que muitas mulheres, de capacidade e competência infinitas, acreditaram e procederam com as referidas justificativas em suas vidas. Enterram-se vivas sem perceber a absurda estória conduzida por outros que não por elas mesmas.
Quantas mulheres permaneceram cegas, surdas, mudas. Um destino injusto, desigual, esquecido. Será que detiveram identidade?
Alguns ainda tentam impingir mácula à expressão dessa igualdade tanto perseguida. Mas, os sonhos permanecem em nossos horizontes e fortalecem as nossas almas, como se ocorresse um renascimento diante das dificuldades experimentadas.
Exatamente por isso, tomei a iniciativa de redigir projeto de lei, bem como suas justificativas, objetivos e fundamentos (Projeto Lei da Igualdade), conclamando para que TODOS participem desse ideário de justiça, acrescendo assinaturas digitais no endereço eletrônico: http://www.amamcba.org.br/.
O referido projeto objetiva conceder melhores condições de vida (igualdade de salários, participação e acesso) às mulheres e respectivas famílias e, portanto, a toda a sociedade, tendo-se em vista que o custo da discriminação de gênero deturpa a educação das gerações futuras, instiga a violência e legitima a exclusão social, descaracterizando, pois, a própria dignidade humana. Assim, a possibilidade da concreção da igualdade deverá passar pela conscientização dos direitos humanos na perspectiva de gênero, inclusive no concernente aos conceitos básicos (integridade física, psicológica, moral, sexual e patrimonial). Afinal, mundialmente, a violência de gênero apresenta-se, por vezes, até institucionalizada, pela própria forma de Estado (leis, sistemas, hierarquias e culturas excludentes). A superação da concepção de espaços pré-destinados é outra questão de suma importância para se vencer as distinções discriminatórias secularmente prescritas. Portanto, a sua participação é imprescindível à obtenção de assinaturas suficientes ao referido projeto, de iniciativa popular, em observância aos limites de percentual necessários à obtenção de um milhão de assinaturas.
Como se fosse um sonho ou um amanhã de novas realidades.
Termino esta aspiração com as palavras magníficas de Hannah Arendt: “Consoladora, inclina-te suavemente para o meu coração. Dá-me, silenciosa, alívio para a dor. Coloca tua sombra sobre tudo por demais brilhante. Deixa-me teu silêncio, teu abrandamento refrescante. Deixa-me embrulhar em tua escuridão tudo o que é mau. Quando a claridade doer com novas visões. Dá-me a força para seguir adiante com firmeza” (Por Amor ao Mundo).
Amini Haddad Campos. É Juíza de Direito. Doutrinadora em Direitos Humanos e Gênero. Membro da Academia Mato-Grossense de Letras e da Academia de Magistrados. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..