O Brasil de 2019 e o dia internacional da Democracia

Um país em que transexuais têm expectativa de vida de 32 anos, 4,8 milhões pessoas estão desalentadas, 12,6 milhões desempregadas, 54,8 milhões vivendo abaixo da linha da pobreza e 5 pessoas concentram patrimônio equivalente à renda da metade mais pobre da população, definitivamente não é democrático.

Também não o é, um país que aposta na eliminação de pessoas através da violência estatal, real e simbólica, que se concretiza em práticas de sucateamento da sáude e da educação, defesa de trabalho infantil, retirada de direitos sociais, superencarceramento, desmatamento consentido ou autorização para o envenenamento através do uso de agrotóxicos.

O que superamos com o fim do regime civil-militar foi a lógica de perseguição e morte de opositores políticos. Uma superação tão importante, que é relembrada a cada 25 de outubro, dia em que o jornalista Vladimir Herzog morreu durante uma sessão de tortura no DOI-CODI, em 1975. Mas democracia é mais do que isso.

Precisamos superar nosso histórico de racismo, machismo e subserviência aos países de capitalismo central. A Constituição de 1988 é uma tentativa válida de caminhar para isso, mas seus valores, princípios e regras até hoje não foram plenamente efetivados.

Em 2019, algo mais se quebrou. O discurso eleito, de violência declarada a tudo o que é diferente, de eliminação de pessoas, de direitos e das possibilidades de cidadania e soberania, está pondo em marcha um retrocesso social sem precedentes. Por isso, o Dia Internacional da Democracia é dia de luto, verbo que move todas as pessoas que não perderam a sua capacidade de empatia e de indignação e que seguem atuando para viver em uma sociedade que, mais do que democrática, seja decente.

 

Valdete Souto Severo, presidenta da Associação Juízes para a Democracia - AJD